A ciência gordofóbica e a perda de tempo – CONTÉM NUDES

Chegou até meu conhecimento este artigo sobre a mulher com o corpo mais perfeito do mundo segundo a ciência dizendo que uma universidade investiu seu tempo e dinheiro (ou acham que foi de graça?) para determinar que uma mulher específica, de acordo com todas as suas medidas, tem o corpo mais perfeito do mundo.

Eu sei que o site parece aquele caça-cliques (pode até ser que seja) mas eu deu uma pesquisada e encontrei uns artigos  que confirmam esses boatos (sobre os estudos não sobre a suposta perfeição). Eu adoraria ter caído em uma mentira, mas não foi minha sorte.

¯\_(ツ)_/¯

Segundo meus próprios estudos e eu mesma, todos os corpos são perfeitos. Todos eles têm suas particularidades, todos eles funcionam de formas específicas e a coisa mais bacana é que NENHUM É IGUAL AO OUTRO. Já li relatos de que até o interno varia de pessoa para pessoa. Então eu, Lika Gior, declaro a partir de hoje todos os corpos perfeitos e ninguém pode contestar isso.

Óbvio, meu assunto não para por aí. Eu não ia falar somente dessa partezinha de que todos os corpos são perfeitos, ah não. Eu quero mesmo chamar a atenção para vocês de algumas coisinhas caso não tenham percebido:

1- Por que o corpo de uma mulher foi analisado e não de um homem?

2- Como insistem em falar que está quebrando padrões se tratando de uma mulher branca, magra, com todas as curvas de uma Barbie (mesmo nunca tendo feito plástica), cabelos longos e de uma cor natural e sem pêlos? Como isso de alguma forma é fora do padrão estético imposto às mulheres desde sempre? Como podem dizer que ela é natural sem os pêlos?

3- Por que o corpo perfeito trata somente da estética e não do seu funcionamento?

A objetificação da mulher e a redução dela à um bibelô já é uma prática comum na nossa sociedade. Tão comum que as pessoas encaram isso como natural, só que não é. Aliás, nada nos padrões de femimilidade é natural.

Maquiagem não é natural. Cabelo tingido não é natural. Depilação definitivamente não é nada natural. Não que uma mulher não possa gostar disso e fazer o que gosta. Só temos que entender que a vaidade é algo que usa de artifícios para modificar a aparência. Isso vale também para as belas barbas desenhadas de hoje em dia.

Indo além dessa questão da objetificação, quero pontuar mais algumas coisas.

Será que todas as doenças do mundo já têm cura? Será que todas as pessoas do mundo já não passam mais fome? Será que não existe mais violência? Será que todo o meio ambiente já esta todo salvo e recuperado de todos esses anos de destruição humana? Será que todos os problemas do mundo já estão resolvidos a ponto da ciência – mesmo que seja uma universidade do Texas – ter disponibilidade para sair medindo o corpo de todas as pessoas do mundo (se concluíram isso só pode ser porque mediram todos os corpos do mundo, apesar de não me lembrar quando mediram o meu) Será mesmo que esse investimento era muito importante a ponto de deixar passar todas as necessidades atuais para determinar quem tem um corpo perfeito segundo a ciência COM BASE EM QUE?

A seguir, eu quero mostrar algo a vocês. Juntei com minhas amigas uma compilação de corpos de vários tamanhos, cores e formatos. Várias mulheres, gordas e magras. Vários tipos de fotos. Nudes, cobertos.

 

Olhe bem para todas essas fotos e me digam qual corpo não é perfeito. Qual deles não está da única forma como deveria estar? Qual deles deve ter a aprovação de um estudo científico para ser considerado perfeito? Qual deles está errado?

Sei que vocês notaram que os rostos estão cobertos e isso tem uma intenção. Não é apenas para preservar a identidade das meninas (que na verdade elas não se importam com isso), mas para chamar a atenção de um fato: nós mulheres sempre somos reduzidas aos nossos corpos.

Como a Paola do Não Sou Exposição explica ao falar da Sarada Sem Cabeça, de uma forma ou de outra todas as mulheres são reduzidas a corpos. A cabeça não importa, é um mero detalhe. O que é afinal uma cabeça perto de um corpo perfeito? Só uma parte vital do corpo, nada de mais.

Ah mas Lika eles mediram o rosto também!

Nossa muito obrigada por isso! Sério! Eles lembraram que a mulher tem uma CABEÇA e que essa TAMBÉM PRECISAVA SER MEDIDA! Afinal de contas, se cada milímetro do corpo dela não estivesse de acordo com o que eles esperavam, ela não ia mais ser a pessoa do corpo mais perfeito do mundo e teria sua carteirinha de perfeição em forma humana rasgada e teria justa causa.

O que é um cérebro em funcionamento quando se tem um nariz ideal? O que é uma personalidade quando suas bochechas têm a medida certa? O que é ser capaz de bolar ideias se sua boca tem a milimetragem considerada perfeita? O que é ser humano se você pode ser um bibelô humano?

As máscaras nessas fotos representam justamente isso, essa falta de espaço de expressão, essa ideia de que só servimos para ser enfeite (isso quando servimos né?). Em outras palavras: até quando vão achar que nós somos meros enfeites e não seres pensantes e sencientes?

Quero deixar aqui toda e qualquer reflexão válida acerca deste tema. Tanto da inutilidade de algumas coisas quanto dessa falta de humanidade com que tratam a mulher.

Antes de encerrar agradeço à todas que colaboraram com as fotos. Neste meio temos foto de autoria da Ray Neon e das meninas do Tamanho P, Isa Hansen que tirou uma foto linda minha (sim tem tia Lika aí no meio <3) e outras amigas maravilhosas que eu amo ❤

kiss the fat girl assinatura

4 comentários

  1. Que post maravilhoso, ja li e reli e nossa concordo totalmente, realmente nós mulheres sempre fomos reduzidas a um corpo, eu tatuei no meu braço uma frase de um dos meus autores favoritos que diz “E eu sou um cérebro, o resto de mim é mero apêndice” não que meu corpo não tenha valor, porque ele é lindo, mas eu sou feita das minhas ideias, da minha cultura, de tudo que vivi e aprendi!

    Obrigada por esse post!

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